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Gabriel e Nathalia mostram que é possível superar a deficiência e realizar o sonho de estudar

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Por Fellipe Carrasco | Fotos Arquivo Pessoal/ Divulgação

A inserção das pessoas com deficiência na vida escolar sempre foi um desafio para pais e educadores. No entanto, felizmente, podemos observar histórias de sucesso na formação desse segmento, com a inclusão praticada desde cedo no âmbito da Educação. O estímulo precoce é uma das ferramentas fundamentais para que se alcance êxito nessa missão.

No esporte, Gabriel fez exames e conseguiu se graduar na faixa preta de taekwondo
No esporte, Gabriel fez exames e conseguiu se graduar na faixa preta de taekwondo.

Um exemplo é o caso de Gabriel Almeida Nogueira. Aos 24 anos, ele tem síndrome de Down e acabou de superar um grande obstáculo em sua vida: ingressou na Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, onde é aluno do primeiro semestre de Teatro.

Gabriel é filho de Joseane da Silva Almeida, arquiteta da prefeitura de Pelotas e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Católica de Pelotas. O pai, José Carlos Brod Nogueira, também é arquiteto e professor no Centro de Artes de Pelotas.

Joseane não acredita que o fato de ambos abraçarem o ofício do magistério tenha influenciado nas escolhas que fizeram em relação ao rumo da educação do filho. “Nos tornamos professores após o nascimento do Gabriel. O aspecto principal, efetivamente, foi optarmos por uma perspectiva melhor no sentido de que ele tivesse uma educação inclusiva. Nosso filho sempre estudou em escolas regulares, pois achamos que ele precisava acompanhar o conteúdo curricular das instituições convencionais”, conta.

O caminho foi longo até a universidade. “Observamos que as entidades direcionadas a pessoas com Down que existiam na época não davam conta disso. Exploravam apenas estímulos específicos para a deficiência. Isso, na nossa visão, acabava limitando o universo da criança. A partir daí, depois de muita investigação, descobrimos, em Porto Alegre, o Centro Lydia Coriat, que é uma espécie de filial da entidade de mesmo nome em Buenos Aires. Lá, os profissionais trabalham com um método que se encaixava em nossas expectativas. Eles estimulam precocemente, não o lado físico da criança, mas o intelectual. No início conversaram bastante conosco e nos orientaram a colocar o Gabriel em escolas regulares desde pequeno”, relembra Joseane.

Com relação à escolha do curso universitário, Joseane explica que a decisão foi exclusivamente do filho. “Gabriel sempre teve consciência de suas limitações e das implicações que a síndrome traria a sua vida. Por isso, nunca teve vontade de fazer cursos que seriam muito mais difíceis ou inviáveis. Olhou a lista oferecida pela Universidade Federal de Pelotas, pensou e optou por teatro de uma forma muito pessoal e tranquila, sem ser direcionado pelos pais.” O fato de a irmã mais nova, Isabela Nogueira ter entrado na Faculdade de Jornalismo também entusiasmou o rapaz.

Gabriel adora o palco. Além da vocação teatral, participa, desde 2005, de um grupo de dança com pessoas com Down. Outra experiência na área artística foi um papel no filme City Down - A História de um Diferente. “É uma ficção, que conta como é a vida dos moradores de uma cidade onde todos são pessoas com síndrome de Down, exceto uma. Ele achou a experiência maravilhosa. A coisa da atuação sempre esteve presente na vida dele”, revela a mãe do ator.

O esporte também se faz presente na vida de Gabriel. Ele é faixa preta de taekwondo. “Essa modalidade auxilia no domínio e na estimulação do corpo, além de ajudar na disciplina. Todos esses fatores são muito importantes para a atuação no teatro”, observa Joseane.

Joseane, Isabela, Gabriel e José Carlos: família se une para festejar os progressos do rapaz
Joseane, Isabela, Gabriel e José Carlos: família se une para festejar os progressos do rapaz.

Gabriel adora o que faz. Já se sente totalmente adaptado ao curso. “ Fiz muitos amigos. Logo que entrei, aconteceu uma festa de boas- vindas, com várias brincadeiras. Sempre me liguei em teatro, tanto que participei de peças no colégio. Gosto de todas as disciplinas, mas minhas preferências são História do Teatro, Improvisação Teatral e Expressão Corporal.

Com desenvoltura, Gabriel fala de suas experiências cinematográficas. “Participei de City Down e foi muito bom. Tenho uma amiga chamada Talita, que mora em Florianópolis. Agora, ela está preparando um documentário com minha participação. Chama-se Um Olhar Diferente sobre as Coisas”.

Nada parece obstáculo para Gabriel, mesmo na vida amorosa. “Namoro há dois anos com Tamires da Silva Gouveia”. Segundo a mãe, é a segunda namorada do filho. E os planos são ambiciosos, mas sempre com os pés no chão. “Pretendo casar e ter uma família. Mas só depois de me formar e seguir a carreira de ator”, projeta o rapaz.

Aprendizado
Marina de Oliveira é coordenadora do Colegiado do curso e também professora de História do Teatro. Ela conta que o desafio de ter como aluno uma pessoa com síndrome de Down é instigante. “Estamos muito motivados a aprender com o Gabriel. A presença dele, sem dúvida, faz com que os outros trabalhem com a perspectiva da diferença. É um exercício excelente. Para todos nós é uma grande novidade. Por isso, recorremos ao auxílio de profissionais especialistas na doença. Fizemos reuniões para trocar ideias. Foi bastante positivo.” O curso é noturno e tem quatro anos.

A professora aguarda com expectativa como será o desenvolvimento de Gabriel ao longo do curso. “Acredito que a gente vai descobrir junto. Por enquanto, está ótimo. Contudo, o tempo vai nos dizer quais as necessidades que surgirão. A avaliação do MEC prevê que não se deve reduzir o grau de exigência para pessoas com deficiência. O importante é que haja uma flexibilização, principalmente na forma de avaliar. Nesse aspecto, podemos mudar, dependendo da facilidade do aluno, ou na forma escrita ou oral.”

Gabriel ingressou no terceiro grau por intermédio de uma seleção do Programa de Avaliação da Vida Escolar (Pave). A iniciativa prevê a análise do histórico do aluno, além de uma prova ao final dos três anos do Ensino Médio. O pretendente não pode ser reprovado. No caso do Curso de Teatro da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), que oferece 50 vagas, 10% (cinco) podem chegar à universidade via Pave. É um curso novo. Criado em 2008, a primeira turma vai se formar no final deste ano.
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